15.04.11

Caraos todaos,



Dia desses escrevi o anexo, intitulado “Como um livro mudou a minha vida” (confira aqui), mas, recentemente, arrumando (atividade em que passei cerca de seis dias em decúbito dorsal, num abaixa-pega-e-põe sem fim, que me renderam, aí sim, pés enormemente inchados [e olha que nem bebo, e também não minto, para vocês]) meus livros numa estante que mandei confeccionar (foto acima) com uma grana extra que o MPF me pagou e por que as estantes que o próprio me fornecia não mais atendiam minhas sempre crescentes e incontroláveis necessidades (gastei R$ 6.000,00 [seis mil reais]), quando me deparei com o livro que realmente mudou minha vida!

Trata-se da obra intitulada “O controle jurisdicional da constitucionalidade das leis e atos normativos do poder público”, de autoria do santo (você vai entender a razão) Manoel Antonio Teixeira filho, Editora LTr, de São Paulo, edição de 1985.

Comprei esse livro com o acervo de uma procuradora do Estado do Amazonas que havia falecido e o marido (hoje, santo também) não tinha nenhum cuidado com as obras que pertenceram à sua esposa (graças a deus, por isso). Os livros estavam jogados e alguns, por terem sido molhados, não foram mais aproveitados por mim! A procuradora se chamava Elzamir. Sua assinatura está na página 3 da obra citada.

Tinha eu sido aprovado na prova objetiva (aquela de marcar em múltipla escolha!) do concurso para o cargo de procurador da República (concurso que começou em 1993 e terminou com a posse em 1995), e esperava pela prova subjetiva (dissertação e resposta a quatro questões). Esta última foi marcada para um domingo, acredito. Na noite de sábado, passando em frente a, até então, pequena biblioteca (hoje tenho cerca de DEZ MIL livros!), deparei-me com a obra indicada e a apanhei e fui lê-la.

O sono foi embora e eu fui dormir muito tarde. Alta madrugada!

No dia seguinte, ao abrir a prova, o tema da “dissertação” era:

“O sistema brasileiro de controle jurisdicional de constitucionalidade: origens, desenvolvimento e estado atual; estrutura e funcionamento sob a Constituição de 1988.”

Só não dei um berro de alegria por medo das “carrancas” do Dr. Wallace de Oliveira Bastos, o procurador da República que presidia a comissão estadual do concurso e do “seu Irineu”, de pele alva e vermelha, muito próxima da do Sivuca.

É claro que eu iria saber dissertar sobre o tema, mas não saberia escrever “Madison x Marbury” e John Marshall, já que dentre todas as coisas que não sei, consta, também, o inglês, mas como tudo estava fresquinho pela leitura da noite anterior, lembrei até da data: 1803!

Que felicidade!

Portanto, o livro de título extenso foi aquele que, realmente, mudou a minha vida, definitivamente! O outro é implicação dele.

Aqui em São Paulo, ainda não tive a felicidade de encontrar o santo autor e dar-lhe um longo e profunda abraço, para só depois dizer-lhe a razão.

Então, senhores concurseiros, digo agora o que digo à boca pequena: estudar sempre, até a última hora e contar, também, com um poucão de sorte, sendo que esta me vem da finalidade para a qual eu sempre estudei: ajudar minha mãe, que foi, é e será, sempre, a razão da minha vida, e sem ela e seu incentivo, carinho e dedicação nem um livro teria feito a diferença!

Portanto, agora canonizo: Manoel Antonio, o santo Anônimo, o primeiro da história e protetor dos relaxados, e as santas Elzamir, por ter comprado o livro e Maria Rosa, que me deu ao mundo e me deu o mundo, aquela que me protege em todas as horas.

Beijos todaos e sua benção, sempre, minha querida mãe,

O findi promete, então, recebamô-o!

Osório


P. S:. Ainda sobre o “Caraos todaos”, e as formas de escrever no “futuropresente” Cony cronicou:

“Salto em rede


Irritado com os meus comentários sobre a linguagem infanto-juvenil que ainda predomina na mídia eletrônica, um sujeito me desancou num e-mail em que me aconselha a jogar gamão e buraco, deixando o universo virtual para o povo eleito que adora botar bicicletinhas no meio de textos.

Não tenho nada contra o gamão e o buraco, mas não sou vidrado nesse tipo de passatempo. Tampouco me emociono com o jogo-de-paciência que vejo muito cara fazendo nas salas de espera dos aeroportos, abrindo seus
laptops para que todos o admirem na função.

Continuo achando que a informática vive sua pré-história, uma era jurássica, cheia de monstros que andam de um lado para o outro, sem articulação e muitas vezes sem qualquer outro sentido. De qualquer forma, ela é irreversível e fatalmente encontrará sua linguagem, não será um mero serviço, mas um fator de enriquecimento humano e espiritual. Poderá ser útil para encomendar pizzas de quatro queijos (que nos chegarão lerdas e frias), mas sua transcendência superará sua atual contigência.

Outro dia, uma moça me perguntou em e-mail se eu já tinha uma namorada virtual. Deixou no ar uma insinuação, quase se oferecendo e eu quase aceitei. Mas pensei melhor. O universo virtual é mais concreto do que se supõe. Ele existe em redor de nós, como um monstro ou um anjo, dependendo do lado pelo qual o abordamos.

O homem moderno foi condenado a ser manipulado pelo excesso de comunicação. Pela massificação que o torna solitário dentro de si mesmo, por mais que se relacione com o grupo ou com a vida real.

O mundo virtual é um salto sem rede no espaço de cada um. É emocionante, lúdico, coreográfico, abre milhões de oportunidades. Dá até mesmo uma sensação de onipotência à nosssa fraqueza individual. Mas pode terminar mal, com nossos membros esfacelados pela proximidade do sonho que nunca se realiza.” (FSP, 10.04.11).

P. S2.: Agora os poemas de lei:


Dói demais


A morte atenta
de dentro e fora te afugenta
(ratinho oculto com receio)

e, enquanto arderes,
vais procurar junto às mulheres
refúgio em braço, joelho e seio.

Mais que o calor
do colo afável, mais que o ardor,
precisar muito é que te apressa;

assim, quem quer
que possa abraça uma mulher
até que a boca empalideça.

Fardo supremo
é ter que amar, mas sumo prêmio.
Quem ama e não encontra um par

é, na miséria
de seu desterro, como a fera
desamparada ao defecar.

Outras guaridas
não há, mesmo que armado agridas
a própria mãe, homem ousado!

Só que houve, um dia,
uma mulher que me entendia
e, ainda assim, me pôs de lado.

Sou pária em meio
da espécie. Ornando-se de anseio
e angústia, zumbe-me a cabeça:

seu som contínuo,
que nem chocalho que um menino
chacoalhe ao ficar só, não cessa.

Como se opor
e o que fazer em seu favor?
Se o descobrir não me envergonho.

Está provado
que o próprio mundo põe de lado
quem trema ao sol e tema o sonho.

Toda a cultura
me foge tal qual, na ventura
alheia, a roupa cai do amante.

Mas, vendo a morte
caçoar-me, que ela nem se importe
e eu sofra só - não é o bastante?

Dói, ao recém-
nascido, o parto, e à mãe também.
Reduz-se a dor quando é conjunta.

Eu, se me esmero
cantando a dor, ganho dinheiro
e a mim a infâmia é que se junta.

Basta! - Garotos,
que vossos olhos ceguem rotos
onde, por perto dela, andais.

Vós, inocentes,
gritai sob botas inclementes,
dizendo-lhe que dói demais.

Cães adestrados,
sede na rua atropelados
a lhe ganir que dói demais.

E vós, gestantes,
não deis à luz, abortai antes
e lhe chorai que dói demais.

Gente sadia,
adoecei e, na agonia,
lhe sussurrai que dói demais.

Homens que houver
se engalfinhando por mulher,
não silencieis que dói demais.

Cavalos, touros,
à espera dos jugos vindouros,
gemei castrados: dói demais.

Peixes nadando
mudos sob gelo, arfai-lhe quando
o anzol fisgar-vos: dói demais.

Tudo de vivo
que a dor aflige sem alívio,
queime-se a terra que habitais-

vinde tisnados
e, junto à cama dela, aos brados,
bramai comigo: dói demais.

Que saiba disso
a vida toda: por capricho,
ela negou-se por inteiro,

mandando embora
um ser em fuga dentro e fora
de seu refúgio derradeiro.

Autor: Attila József (tradução NELSON ASCHER)

Fonte: 10/04/2011, Folha de São Paulo, Ilustríssima.

e,


Recordações

Oh! se te amei! Toda a manhã da vida
Gastei-a em sonhos que de ti falavam!
Nas estrelas do céu via teu rosto,
Ouvia-te nas brisas que passavam:
Oh! se te amei! Do fundo de minha alma
Imenso, eterno amor te consagrei...
Era um viver em cisma de futuro!
Mulher! oh! se te amei!

Quando um sorriso os lábios te roçava,
Meu Deus! que entusiasmo que sentia!
Láurea coroa de virente rama
Inglório bardo, a fronte me cingia;
À estrela alva, às nuvens do Ocidente,
Em meiga voz teu nome confiei.
Estrela e nuvens bem no seio o guardam;
Mulher! oh! se te amei!

Oh! se te amei! As lágrimas vertidas,
Alta noite por ti; atroz tortura
Do desespero da alma, e além, no tempo,
Uma vida sumir-se na loucura...

Nem aragem, nem sol, nem céu, nem flores,
Nem a sombra das glórias que sonhei...
Tudo desfez-se em sonhos e quimeras...
Mulher! oh! se te amei!

Autor: Francisco Otaviano

e,
Reflexões IX

Amei o Amor, ansiei o Amor, sonhei-o
uma vez, outra vez (sonhos insanos!)...
e desespero haja maior não creio
que o da esperança dos primeiros anos.

Guardo nas mãos, nos lábios, guardo em meio
do meu silêncio, aquém de olhos profanos,
carícias virgens, para quem não veio
e não virá saber dos meus arcanos.

Desilusão tristíssima, de cada
momento, infausta e imerecida sorte
de ansiar o Amor e nunca ser amada!

Meu beijo intenso e meu abraço forte,
com que pesar penetrareis o Nada,
levando tanta vida para a Morte!...

Autora: Gilka Machado.


Um comentário:

José Roberto disse...

..."me vem da finalidade para a qual eu sempre estudei: ajudar minha mãe, que foi, é e será, sempre, a razão da minha vida..."
O quanto valoroso são essas frases hoje em dia, o quanto é surpreendente, talvez por partir de um magistrado, não existir uma galhofa de filhinho da mamãe; lamentável comentário hoje em dia.
Nas novelas, que "retrata" (influência que distorce) o comportamento das mentes fracas.
Parabéns, sua demonstração de carinho é uma forma legítima linda de afirmação de amor e gratidão a quem nos lança ao mundo com toda força que a alma alcança. Com um arco que se estender para projetar a lança, já dizia Khalil Gibran, em O Profeta.
A timidez de ser bom é o que permite que os maus se ploriferem.


Minha admiração.
José Roberto Alencar da Silva