Fim de um caso!

Caraos todaos,

Fim de um caso!

Nem muitos romances, casamentos, amores, duram tanto.

Mais um dos meus relacionamentos chegaram ao fim e, pela vez primeira, sem traumas para ambos os lados!
Eu tinha chegado em São Paulo em 2001 para estudar (fazer um mestrado em Direito Constitucional na PUC-SP). Corria 2003, ano da defesa da dissertação. Embora ainda não estivesse muito seguro, meu projeto de vida ainda era voltar para Manaus após a defesa. Estava totalmente focado na atividade acadêmica, especialmente por não estar muito em sintonia com a minha querida orientadora, pois esse meu jeitão, contestador para uns e sede de aprender para mim, me leva a fazer perguntas meio inconvenientes!

Em 13.03.2003 recebo na PR-SP, para estagiar no gabinete que lá ocupava, um estagiário, ao qual não prestei muita atenção, pois estava envolvido demais com o tal “Direito de Petição”.

Parêntese: sempre gostei muito de trabalhar com estagiários, pois eles estão sempre dispostos e não costumam fazer corpo mole, pois ainda não estão acomodados como, as vezes, embora raro, ficam alguns que esquecem que são “servidores do público”.
Outro parêntese: estagiário sempre está com apetite! É o primeiro a chegar nas festinhas de aniversário e o último a sair. Oh, raça!

Pois bem, já na minha defesa, final de 2003, ele já estava na audiência, depois, para variar, no restaurante! (um restaurante amazônico que tinha na Bela Cintra e agora está no Bexiga).
Em 19.04.2004 deixamos, com a minha promoção a PR-SP, e levei-o a tiracolo para a PRR3.
De estagiário, convidei-o para uma função gratificada. Foi um salto financeiro para ele!

Ficou nessa FG de 29.04.2004 até 06.03.2006, quando o indiquei para um cargo de confiança. Tornou-se meu assessor. Me confessou que, dificilmente, no futuro, seu contraxek evoluiria tão astronomicamente!

Certa vez, disse a ele que iria proibi-lo de fazer qualquer concurso público. Ou melhor, que ele somente poderia fazê-lo após a minha aposentadoria.

Mas eu sabia que minha brincadeira tinha prazo de validade!

Eis que ele fez alguns concursos e, recentemente, me comunicou que iria assumir como advogado da CEF.

Em março de 2011 ele bateu asas e voou!

Foram, portanto, onze (11) anos de convivência mansa e pacífica, de estudos, de respeito e discordâncias pontuais e honestas.

O convenci em algumas teses em que ele pensava de um jeito e eu de outro. A recíproca é absolutamente verdadeira, pois, como faço questão de dizer no primeiro encontro que mantenho com aqueles que trabalham
comigo, sou, também, um estudante, um aprendiz e, em algumas matérias, eles estão mais atualizados que aqueles que, como eu, não a vêem há muito tempo!

Algumas vezes, contudo, no impasse, alguém tinha que decidir, muitas vezes segui seus conselhos, noutras impus a minha vontade, pois o processo tinha (tem) que andar.

Meu assessor até que demorou a voar!

Atribuo a sua falta de penas ao seu excesso de saber!

Os concursos públicos, penso, não estão preparados para uma avaliação mais profunda daqueles que batem à sua porta, eles se contentam com o feijão-com-arroz, e o meu ex-assessor não está nesse nível. Ele se
nivela por cima, porém nos concursos não se quer os “por quê?” da filosofia – onde ele navega em águas profundas e rasas –, mas apenas que se saiba que matar alguém está tipificado no art. 171 do Código Penal.

Por que será que na faculdade seu apelido era “geninho”?

A convivência, que em alguns costuma levar à confiança, com ele nos levou à liberdade e a amizade respeitosa, certamente que por ele seguir a trilha que lhe foi mostrada por seus pais, a quem tive a honra de
conhecer!

Foi meu confidente e incentivador e a ele devo muito por ter me ouvido nas horas de dores lancinantes, sobre temas que foram além dos assuntos  de trabalho.

Embora compartilhe com ele inúmeras teses, em algumas, como não poderia deixar de ser, nos afastamos, especialmente no que concerne à forma de olhar os direitos humanos das ditas minorias, o que para mim é de
duvidoso apoio incondicional.

É óbvio que por elas tenho respeito, como não poderia deixar de ser, não só por dever legal, mas por sentimento pessoal. Mas existem determinadas postulações que, se aceitas, invertem as coisas, passando a
vontade da minoria a se sobrepor à da maioria.

Ouçamos o que diz um sofista (eu estou cada dia mais apaixonado por esse movimento grego do século V a.C e, duvido que você, conhecendo-o, não se apaixone também):
“...e aqueles que, ofendidos, se defendem e não tomam eles ainiciativa, e aqueles que beneficiam os pais também quando estes osmaltratam, e aqueles que permitem a outros de acusá-los com juramento eestes não o fazem...Mas se quem suporta tudo isso tivesse uma ajuda dalei, e quem não o suporta, ao contrário, o evitasse, tivesse um dano,não seria infrutífero o vínculo das leis; em vez disso, é claro que ajustiça que provém da lei não é suficiente para proteger aqueles quesuportam todas essas coisas. Antes de tudo, ela permite que o ofensorofenda, e não impede que o ofendido receba um dano e que o ofensor lhoprovoque. E por aquilo que diz respeito à punição, não é mais favorávelao ofendido que ao ofensor. De fato, é necessário que aquele consigapersuadir do dano sofrido a quem lhe deve fazer justiça e que as suasrazões consigam vigorar. Mas também a quem ofendeu é permitidodesmenti-lo...[faltam 5 linhas]...e essa é a coisa mais grave, que a própriacapacidade de persuasão, que a acusação confere ao acusador, pertença domesmo modo tanto ao que sofreu quanto ao que fez a ofensa.”(Antifonte, citado por CASERTANO, Giovanni – Sofista – São Paulo:Paulus, 2010, p. 123.)
Com o acima quis dizer eu que, independe da classificação que se dê ao ser humano, pois esta não o impede de ser bom ou mau, seja maioria, seja minoria. São as ações que devem ser olhadas, independente de qualquer coloração! É o que, no meu pensar, ainda falta para o jovem Carlos. Por isso pondero: a maioria nem sempre está errada!

Há dias vinha tentando escrever este algo sobre essa despedida, mas a escrita vinha teimando em não vir me ver! Quem escreve (em especial poesia) sabe que a escrita é que nos procura, e quando quer. Não adianta
insistir! Se ela não quiser, ela não aparece.

Hoje, de fato, não apareceu, pois o sobredito não está à altura da homenagem que, humildemente, queria prestar, como de fato presto, ao meu amigo e ex-colaborar formal de oito anos, Carlos Frederico Ramos de
Jesus, a quem só posso desejar que encontre no seu novo caminho pessoa capazes de sentir a sua sensibilidade, elegância, simpatia, educação (formal e doméstica) e sabedoria, que ele irradia por todos os poros e que o torna inesquecível e querido por todos aqueles que têm o prazer de encontrá-lo nessa pequena jornada que, infelizmente, é a vida.

Dia desses, um outro amigo (fã do Garcia Lorca), bilionário e inteligente e espirituoso, me mandou a mensagem a seguir transcrita, que, no meu caso, é imerecida, mas que aproveito para dirigi-la ao
Carlos, a quem ela, por outras mãos, foi escrita. Disse ele:

“Nobressimo amigo, que estejas bem, tu, a família e os que te cercam.
Como costumeiro, quando dou sinal de existência é por que eu estou precisando dos préstimos do amigo.
Renovo-lhe como sempre meu respeito ao senhor.
E a maior riqueza que tenho quando dirijo-me a V. Exa., é, contudo, ter o prazer de cultuar a vossa amizade, ainda mais nas horas de aflição.”

Portanto, estas bem traçadas linhas são, mais uma vez, o meu reconhecimento e o meu agradecimento ao Carlos, e foram escritas com o carinho e a admiração de sempre.

Seja feliz, sempre!

Obs.: o artigo do Código Penal citado acima (homicídio) é o 121, mas queria saber se você, leitor/concurseiro, estava antenado! Magistral sexta-feira e findi a todaos!

Abraços,

Osório

P.s.: ontem encontrei o Carlos no lançamento do seu livro “John Rawls, a concepção de ser humano e a fundamentação dos direitos do homem”, pela Ed. Juruá. Vale a pena conferir!

Um comentário:

Minha fábrica de sonhos... disse...

Ah, então também és um contestador?! Logo vi que deverias ser assim, desse jeito.

Também és de fazer perguntas inconvenientes... será que é o grande mal que muito sofre a "Turma do Bem do MPU"???

Comigo também acontece de as palavras aparecerem quando desejam aparecer, por esse motivo estou sem postar por dias.

Nara.