Estimado Silvano,
Algumas pessoas aparecem nas nossas vidas quase como “cumulus nimbus”: parece que trazem a tempestade, mas, com o mirar e o passar do tempo, por trás das nuvens escuras brilha o sol em todo o seu esplendor.
No refeitório do trabalho conheci, de vista, um cara alto, de voz grossa e imponente que o tornava, exatamente, imponente e, por isso, antipático.
Procurei saber quem era e me disseram que trabalha nos serviços administrativos da Instituição e que era formado em Direito pela USP e fazia mestrado.
Antipático! Conclui.
Depois, por um motivo qualquer (que não vale a pena ser lembrado), o cara se tornou mais antipático ainda!
A vida deu uma freada de arrumação e precisei de um novo secretário. Quem? Pensei.
Por que não aquele antipático, cujo nome nem lembrara? Mas, por que ele?
Era formado em Direito, fazia mestrado e estava lotado num local cuja função, pensei, era carregar processo. Ou seja, dava vazão apenas à sua compleição física e deixava na inatividade seus conhecimentos jurídicos (alerte-se: nada contra quem carrega processos, pois tais pessoas são tão necessárias quanto as demais que formam os elos da corrente, mas não se pode deixar em tais funções, a não ser que a própria pessoa opte por isso, aqueles que têm um cabedal de conhecimentos capaz de ser aproveitado em funções intelectuais mais compatíveis com sua formação, especialmente a atividade fim do Ministério Público).
Não recordo ao certo, mas, parece, abordei o sujeito no mesmo local onde pela primeira vez o vira e o convidei para a função.
O grandalhão já foi mostrando outra face, especialmente pelo espanto que lhe acometeu o convite em si, já que jamais tínhamos trocado sequer as cordialidades de praxe.
Certo é que em poucos dias estava o Silvano José Gomes Flumignan trabalhando conosco, ou eu trabalhando com ele.
Foi um ano de extremo aprendizado e desfazimento da imagem inicial e na transformação da antipatia em admiração. Esta decorreu, especialmente, de alguns fatos: educação, atenção, cortesia, inteligência e esforço. Todos no mesmo nível, mas o esforço merece um parêntese:
- Silvano se mostrou incansável nos seus estudos!
Passou (foi aprovado) em alguns concursos, fruto de suas horas trancado em baias que alugava num cursinho na Av. Paulista e nas ocasiões em que o trabalho lhe permitia, pois tinha lhe dito (como digo a todos que passam por aqui): se tempo lhe sobrar, use-o nos estudos, pois detestaria encontrá-lo jogando paciência no computador da Instituição.
Encontrei-o, ainda, altas horas no gabinete e, até, em domingo!
Eis que Silvano resolve assumir um dos cargos em cujo concurso foi aprovado (Procurador do Estado de Pernambuco).
Tentou se despedir o amigo, mas não lhe dei atenção. Temi que ele visse meus olhos marejados pela separação do, hoje, amigo, embora ele já me tenha visto chorar inúmeras vezes (sou um chorão nato! Amor, amizade, injustiça, alegria, tristeza, beleza, tudo é motivo para lavar os olhos).
Sei que o futuro reserva a realização de todos os sonhos do Silvano na carreira jurídica, basta que ele queira, pois lhe sobra inteligência e, em especial, força de vontade, as duas alavancas para a concretização de qualquer objetivo.
Para ele, posso dizer: amigo, não existe concurso difícil, basta que você queira e faça do seu querer o seu agir.
No nosso último dia de trabalho juntos, ele me presenteou com um livro (Drummond). Olhei e vi que não tinha nenhum oferecimento. Pedi que o fizesse e fui embora com um simples “boa noite”, dirigido a ele e aos outros que estavam na antessala.
Na segunda encontrei o livro com a seguinte dedicatória:
"Dr. Osório,
Obrigado por ser essa pessoa especial e humilde. Um exemplo de caráter e de trato com seus subordinados.
Tenho muito orgulho de ter aprendido não só direito, mas a ser uma pessoa mais humana.
Um abraço do amigo Silvano 25/06/10"
Entendem agora por que o chamo de amigo?
Somente um amigo seria capaz de tais palavras.
Subordinado?! Tenha dó!
Somos apenas dois seixos rolando na imensidão do universo. Hoje, mais velho, apenas cheguei primeiro.
Aprendeu direito? Será?
Eu sim, voltei aos bancos da faculdade e me lembrei do quanto um dia gostei de Direito Civil, onde você é mestre. Quem aprendeu com quem, já que tinha esta matéria como morta desde que me apaixonei pelo Direito Constitucional, depois de um breve envolvimento com o Direito Tributário?
Se aprendeu algo, é certo que já esqueceu (risos), mas foi ler poesia. Lembra o dia em que pedi para você, recém chegado ler a história infantil “O homem que amava caixas”, de Stephen Michael King (Editora Brinque Book)?
Lestes que nem um robô, mas depois de minhas ponderações e do Carlos, o homem de “gelo” mostrou toda a beleza e sensibilidade que era escondida pelas reticências do desconhecimento.
Por que escrevo este bilhete e o compartilho com todos? Para que, se um dia, caso cruzem com o Silvano em suas vidas, saibam que nessa rocha bruta existe um diamante lapidado com extremo esmero por: Silvano (pai) e Jane a partir da cidade de Presidente Prudente.
Mais, para alertá-los que a maior prova de erros causados pela aparência pode ser constatado no seguinte: está nascendo uma filha minha. Tinha pensado em convidar o Silvano para apadrinhá-la, mas eis que um outro grande amigo cruzou o caminho e se ofereceu para tal e não tive como dizer não.
(Será que precisarei partir para o quinto filho?)
Sua ausência é sentida, mas será, se assim o desejares, apenas um até mais, um estágio na conclusão dos teus objetivos.
Abraços ao Silvano e toda a saúde e felicidade do mundo.
Do Osório
Imagem por JD | Photography
Um comentário:
Dr Osório,
Hoje 17/07/2012, ao ter conhecimento desta dedicatória ao mestre e doutor Silvano Flumignan, me deu uma vontade em comentar sobre esta pessoa querida.
Todo os dia eu eu agradeço a Deus por tido a oportunidade de ter tido aula com esse homem, pois se não fosse ele, talvez não teria continuado o curso de direito.
Silvana o meu muito obrigado por passar na na minha pela minha vida acadêmica. E que Deus lhe abençoe sempre.
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